Não é como se nunca tivesse escrito antes, mas é como se fosse a primeira vez. Esse frio na barriga, essa sensação de querer abrir o caderno e escrever até as coisas mais tolas, ou simplesmente ler algo que já tenha sido escrito, nessa ou em outra vida, não que eu acredite nisso também, mas a necessidade de ver que a caneta está colada em meus dedos deslizando pelo papel em branco (ou amarelo nesse caso - envelhecido pelo tempo e cheirando a algum creme antigo que estava perto dele durante todos esses anos), formando símbolos que podem querer dizer algo, sobre mim ou sobre os outros, me faz desejar coisas estranhas.
Diante do mundo bizarro que vejo, talvez seja minha maneira de fugir, de procurar algum foco ou alguém em quem possa me apoiar, sem a terrível sensação de que essa pessoa vai me abandonar, mas quando estou no meio da multidão, diante daqueles corpos que se espremem, puxam e se empurram para chegar ao seu destino, sei que na verdade ninguém se importa e sou tomada por um sentimento que ao mesmo tempo me alivia e me assombra, como se apesar do meu corpo estar de pé, resistindo à maré de corpos que se joga contra ele, na verdade estivesse em lugar nenhum, fosse apenas uma sombra, algo perdido no universo que não consegue entender ou capturar tudo que acontece nesse plano.
Vejo cada uma dessas pessoas preocupadas com seus próprios problemas, como se a não solução deles fosse acabar com suas vidas. Mas a verdade é que não vai. São problemas pequenos, são coisas que valorizamos porque uma sociedade (antiquada) louca e cheia de "podes" e "não podes" impôs para que as pessoas não notassem que estão apenas cuidando de problemas ao invés de viverem suas vidas.
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